sexta-feira, 5 de junho de 2020

TOC, TOC, TOC... Pensando no transtorno obsessivo-compulsivo em meio ao Coronavírus





Para algumas pessoas, tirar a roupa e os sapatos ao entrar em casa, lavar repetidas vezes às mãos e se preocupar com a possibilidade de contaminação por agentes infecciosos não são apenas cuidados instalados em decorrência da pandemia do COVID-19. São, antes, rituais compulsivos de ideias obsessivas de contaminação. Falei grego? Vamos entender um pouco hoje do Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) e as possíveis repercussões que a pandemia atual poderá ter  nesses casos.

O TOC acomete aproximadamente 1,2%  da população dos Estados Unidos, com uma prevalência ligeiramente maior em mulheres adultas do que em homens adultos1. Possui uma idade média de início em torno  dos 19 anos. Algumas pessoas podem apresentar sintomas já na infância, sendo raro o início após os 35 anos.

Como o próprio nome sugere, os sintomas incluem pensamentos obsessivos, repetitivos, como vozes ou imagens indesejáveis, desagradáveis “dentro da cabeça”. Tais pensamentos tendem a levar o indivíduo a atitudes compulsivas que, de forma inconsciente, tentam aplacar tais obsessões. Exemplos são fixação por limpeza, simetria, contar objetos repetidas vezes ou mesmo repetir palavras em silêncio. 

Importante destacar que essas situações tendem a ser excessivas e a causar prejuízo no cotidiano, algumas vezes tomando um bom tempo do dia da pessoa acometida. Daí, não se pode diagnosticar todo mundo que é “organizado” ou “limpo” como tendo TOC.

O TOC já foi considerado mais próximo dos transtornos de ansiedade, mas hoje segue uma espécie de carreira solo no mundo das doenças psiquiátricas: tem uma base biológica própria. Ainda assim, níveis maiores de ansiedade, como o contexto da pandemia, podem ser desencadeadores de TOC ou mesmo reativadores de sintomas obsessivos-compulsivos que estão quietos, adormecidos. Outro ponto é que o TOC pode vir associado a outros transtornos psiquiátricos, como depressão, ansiedade generalizada e até sintomas psicóticos.

Assim sendo, procurar ajuda  caso pensamentos invasores  estejam rondando sua mente é imprescindível,  ou  caso atitudes excessivas  comecem a fugir do controle (especialmente no que diz respeito à limpeza, nos dias atuais). Muitas pessoas ficam presas numa tormenta de adoecimento por terem constrangimento de expor essa fragilidade. Falar sobre isso, contudo, pode ser como entrar em um navio rumo a águas mais calmas.


1 – APA. DSM V, 2013.





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