Todas as pessoas que lidam com crianças, pais, tios, avós,
desejam que seus infantes sejam inteligentes, grandes atletas e emocionalmente
capazes. Isso é um fato quase universal, digo sem medo. Afinal, desejar o bem a
essas coisinhas fofas e “sabidinhas” (como se diz aqui no Nordeste) é quase um
imperativo...
Se pararmos bem para analisar esse desejo, é possível ver,
de cara, o quanto ele é utópico. Ninguém é pleno, perfeito e sem lacunas (e que
pena se alguém for assim, deve ter uma vida muito monótona!). Com nossas
crianças, não é diferente. Elas terão, sim, habilidades especiais como todo
mundo, mas jamais serão privadas de precisarem dos outros – uma condição sine
qua non da existência humana.
Se é assim, como podemos potencializar as habilidades dos
nossos pequenos? Sem dúvida, não será como fazer um bolo de ovos. Inteligência,
ou mesmo genialidade, não saem do forno. É preciso investimento emocional,
cognitivo, familiar, individual, comunitário, social, físico, espiritual (e até
nutricional) para isso...
A formação de uma criança começa com a união do
espermatozoide e do óvulo no trato genital feminino. Este encontro já é
recheado de pressupostos: como era a carga genética dos pais? Como estava a
saúde de ambos os genitores ao produzirem esses gametas? Os fatores
epigenéticos** que modularam a formação do óvulo e do espermatozoide foram bem
conduzidos? E após a concepção, a gravidez fluiu bem? A mãe ficou muito
estressada na prenhez? Houve um bom aporte nutricional a essa gestante? Todos
estes aspectos influenciarão, sem sombra de dúvida, na formação do cérebro da
criança.
É interessante frisar que os 1000 primeiros dias de vida de
um indivíduo são hoje tidos como fundamentais nessa formação e maturação
cerebral. O ser humano passa por diversas transformações neurológicas na
primeira infância. Basta observar que nem sabemos andar ao nascer! E ainda
precisamos aprender a falar, correr, abstrair, ler, etc. Nesse sentido,
diversas conexões serão formadas e outras serão “podadas” para que nossa mente
consiga fluir e seguir linhas padrão de raciocínio...
O que acontece? Se nesse período precoce a família não é um
ambiente acolhedor ou mesmo a criança sofre de doenças graves, faz uso de
medicamentos, é exposta a substâncias tóxicas, passa por traumas, abusos e
negligências... Tudo isso pode influenciar de forma negativa esse cérebro ainda
imaturo.
Se queremos uma sociedade onde saiam mais cérebros geniais
dos “fornos das maternidades”, é necessário que, enquanto comunidade, ofertemos
às pessoas saúde e qualidade de vida; às mulheres, gestações saudáveis; às
crianças, segurança, apoio, comida, lazer, conhecimento.
Não digo com isso que teremos bolos perfeitos. Todos nós
sempre teremos um lado mais assado que o outro. Não obstante, precisamos
garantir que o sabor da nossa existência, nossa individualidade, com todas as
suas potencialidades, não se perca.
** Em linhas gerais, epigenética
diz respeito a mecanismos ambientais que influenciam e modificam a expressão de
genes; aspectos como questões nutricionais, uso de medicamentos ou mesmo o
estresse podem atuar de forma epigenética.

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