Cheiros, sabores, toques, olhares ou sons... Vivências sensitivas que todos temos desde a mais precoce época de nossa existência. São nossos sentidos que captam esses estímulos ambientais e, por vias neurais, traduzem essas informações no córtex cerebral em experiências.
É inegável, contudo, que junto a um cheiro familiar ou a uma
música da nossa infância sempre vem uma emoção... Mas por que nossa
interpretação dos estímulos ambientais é atrelada às regiões do cérebro onde
são gerados os sentimentos? A resposta para isso é muito clara: os sentidos
geram lembranças – e lembranças afetivas.
Quando somos crianças e escutamos determinadas conversas de
adulto ou quando sentimos o cheiro do café da nossa avó sendo coado num pano
velho... Ou a primeira vez que vemos a chuva cair forte nas montanhas ou mesmo
os respingos de uma neblina caindo na nossa pele (ao corrermos com nossos
colegas pelas ruas da cidade), temos memórias
que ficarão vinculadas a essas experiências sensoriais. Cada vez que sentirmos
o mesmo cheiro de café, ou a mesma neblina, zap! Um verdadeiro curto-circuito
cerebral evocará aquela lembrança e a mesma emoção daquele momento prévio.
Fui muito bucólico, leitor, falando de montanhas e panos
velhos? Verdade. Eis o problema: as crianças de hoje muitas vezes não estão
construindo memórias afetivas positivas. Estamos vivendo uma verdadeira
avalanche de estímulos sensoriais, mas vazios de significado positivo. São
games, tablets, celulares com cores, sons e personagens tão surreais que nem
Dali1 teria tanta criatividade. É uma verdadeira fuga da realidade,
enquanto essa realidade (montanhas, panos velhos coando café e correr na chuva)
tem tanto potencial curativo. A realidade é dura, sim, não obstante é
maravilhosamente genuína, verdadeira. E a verdade sempre liberta nosso ser.
Precisamos pensar e pleitear por um universo onde as pessoas
(crianças, adultos e idosos) possam construir boas memórias e bons afetos. Isso
não é negar a tristeza, desconsiderar nossas dificuldades. É saber das nossas limitações,
aprender com elas e viver o que é simples. Um mundo onde os adultos sejam
livres e responsáveis, as crianças cuidadas e amadas e os idosos plenos.
Utópico? eu também acho. Mas seremos moral e eticamente indesculpáveis
se não lutarmos por isso.
Nota:


Nenhum comentário:
Postar um comentário