segunda-feira, 2 de março de 2020

Fios desencapados, curto-circuito e estresse...



E um pouco da coletânea biológica da resposta ao que nos é ruim (estressores)

Quando eu era criança foi lançado um filme chamado “Um dia de fúria" Era sobre um homem que surtava diante de várias dificuldades da vida cotidiana. Particularmente, achava aquilo um pouco assustador, por ser algo bem violento e extremado, mas também surreal, já que minhas preocupações naquela época não me faziam compreender como alguém poderia dar um “curto-circuito” desses e sair por aí quebrando tudo.

O tempo passou e hoje, enquanto sujeito ocidental-contemporâneo e também psiquiatra, percebo que essa realidade não é tão improvável assim. Nossa circuitaria cerebral relacionada ao estresse (sim, o termo é esse mesmo), representada pelas conexões de neurônios que interligam regiões do encéfalo que respondem a isso, é bastante complexa. Engloba desde a percepção do estímulo estressor (pela visão, pela audição ou por outro sentido) que chega ao córtex cerebral (região da cognição avançada) e ativa regiões da memória (hipocampo), a capacidade motora (resposta de luta ou fuga), a emoção do medo (amígdala) e até mesmo áreas hormonais (como o hipotálamo e a hipófise).

Essa descrição acima é bem simplória, leitor, mas perceba quantas regiões são ativadas quando estamos fugindo de um inimigo ou correndo de um perigo. O problema da contemporaneidade é que esse perigo nem sempre será concreto – como um leão, um boi bravo ou mesmo um  assaltante com uma arma (para ser mais contextual). Pode se tratar de uma ameaça subjetiva, imaginária. Exemplos? Pressões no trabalho, falar em público, contas para pagar, desemprego, aumento da violência urbana propagada indiscriminadamente por certo tipo de mídia, etc. Essas questões dos nossos tempos nos levam ao tal do estresse crônico, com todos os seus revezes.

Os prejuízos do estresse crônico são diversos. Fala-se que a elevação nos níveis do cortisol, hormônio do estresse, a longo prazo pode gerar problemas como hipertensão arterial, ganho de peso, insônia e depressão, além de interferir no sistema imunológico (defesas do sangue) e na captação de cálcio pelos ossos. Fora os aspectos psicológicos: viver em alerta não faz bem para a saúde mental. Atrapalha a memória, dificulta a concentração e nos predispõe a vivências negativas (olhar de forma amplificada para situações ruins, mas não tão graves assim). 

Daí a importância de cultivar hábitos saudáveis, dar novos sentidos a experiências traumáticas (por psicoterapia, por exemplo), fazer atividade física, alimentar-se bem, exercer a espiritualidade, aprender coisas novas e ter amizades sólidas. Essas são algumas dicas para combater o estresse. Em doses mínimas, ele é um impulsionador da vida. Mas se, como um fio desencapado, estiver promovendo os tais curtos-circuitos na nossa existência, melhor dissipá-lo!

Por hoje vamos ficando por  aqui, mas continuem nos acompanhando. Abraços fraternos.


1. McEWEN, B. S. . Neurobiological and Systemic Effects of Chronic Stress. Chronic Stress, 2017; 1:1-11

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