E um pouco da
coletânea biológica da resposta ao que nos é ruim (estressores)
Quando eu era criança foi lançado um filme chamado “Um dia de fúria" Era sobre um homem que surtava diante de várias dificuldades da vida cotidiana. Particularmente, achava aquilo um pouco assustador, por ser algo bem violento e extremado, mas também surreal, já que minhas preocupações naquela época não me faziam compreender como alguém poderia dar um “curto-circuito” desses e sair por aí quebrando tudo.
O tempo passou e hoje, enquanto sujeito
ocidental-contemporâneo e também psiquiatra, percebo que essa realidade não é
tão improvável assim. Nossa circuitaria cerebral relacionada ao estresse (sim,
o termo é esse mesmo), representada pelas conexões de neurônios que interligam
regiões do encéfalo que respondem a isso, é bastante complexa. Engloba desde a
percepção do estímulo estressor (pela visão, pela audição ou por outro sentido)
que chega ao córtex cerebral (região da cognição avançada) e ativa regiões da
memória (hipocampo), a capacidade motora (resposta de luta ou fuga), a emoção
do medo (amígdala) e até mesmo áreas hormonais (como o hipotálamo e a
hipófise).
Essa descrição acima é bem simplória, leitor, mas perceba
quantas regiões são ativadas quando estamos fugindo de um inimigo ou correndo
de um perigo. O problema da contemporaneidade é que esse perigo nem sempre será
concreto – como um leão, um boi bravo ou mesmo um assaltante com uma arma (para ser mais
contextual). Pode se tratar de uma ameaça subjetiva, imaginária. Exemplos?
Pressões no trabalho, falar em público, contas para pagar, desemprego, aumento
da violência urbana propagada indiscriminadamente por certo tipo de mídia, etc.
Essas questões dos nossos tempos nos levam ao tal do estresse crônico, com todos os seus revezes.
Os prejuízos do estresse crônico são diversos. Fala-se que a
elevação nos níveis do cortisol, hormônio do estresse, a longo prazo pode gerar
problemas como hipertensão arterial, ganho de peso, insônia e depressão, além
de interferir no sistema imunológico (defesas do sangue) e na captação de
cálcio pelos ossos. Fora os aspectos psicológicos: viver em alerta não faz bem
para a saúde mental. Atrapalha a memória, dificulta a concentração e nos
predispõe a vivências negativas (olhar de forma amplificada para situações
ruins, mas não tão graves assim).
Daí a importância de cultivar hábitos saudáveis, dar novos
sentidos a experiências traumáticas (por psicoterapia, por exemplo), fazer
atividade física, alimentar-se bem, exercer a espiritualidade, aprender coisas
novas e ter amizades sólidas. Essas são algumas dicas para combater o estresse.
Em doses mínimas, ele é um impulsionador da vida. Mas se, como um fio
desencapado, estiver promovendo os tais curtos-circuitos na nossa existência,
melhor dissipá-lo!
Por hoje vamos ficando por aqui, mas
continuem nos acompanhando. Abraços fraternos.
1. McEWEN, B. S. . Neurobiological and Systemic Effects of Chronic Stress. Chronic Stress, 2017; 1:1-11
1. McEWEN, B. S. . Neurobiological and Systemic Effects of Chronic Stress. Chronic Stress, 2017; 1:1-11

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