
Metas, objetivos, filhos, supermercado, superação,
casamento, afetos, dívidas, mestrado... São tantas as demandas na vida atualmente
que em alguns momentos nos sentimos totalmente desfalecidos. Vivenciar jornadas
duplas ou triplas não é incomum para o cidadão contemporâneo, e a busca por alvos
outrora longínquos para geraçõ
es passadas é hoje um imperativo. Entretanto,
qual o verdadeiro reflexo disso no campo da nossa saúde mental?
O termo americano (e não francês, como alguns cogitam) Burnout traz a ideia do verbo “burn”
(queimar) e “out” (fora). Literalmente expressa o pensamento de “queimar para
fora”, “queimar em expansão”, “consumir-se”, “esgotar-se”. Forjado por Chistina
Maslack (1981)1, atinge grande número de pessoas no mundo. Um trabalho
realizado em um hospital na cidade de Natal/RN, onde resido, encontrou
prevalência de Burnout superior a 40%
nos funcionários entrevistados2. É um número bastante expressivo! A
ocorrência varia de acordo com as pressões a que são submetidas as pessoas, os
fatores de resistência interna e os momentos que passam cada um. A Síndrome de Burnout é então um conjunto de sinais e
sintomas comportamentais que expressam justamente isto: um esgotamento mental.
A síndrome é fundamentada em três pilares.
O primeiro é a alta exaustão emocional:
“Não aguento mais esse trabalho, me sinto totalmente
consumido...”
Sabe aqueles momentos em que nos sentimos sem forças nem
para sentir? Quando nossa mente cai
naquele oco, naquele vazio existencial, como se nossas emoções estivessem em
colapso total? É disso que me refiro aqui. Uma exaustão afetiva que pode ser
expressa por crises de choro ou de ansiedade (angústia, medo de morrer,
taquicardia, falta de ar), ou por um certo cinismo diante da vida. Imagine que
nossas emoções são como montanhas: ora subimos de alegria e ora descemos de
tristeza (e isso faz parte da existência). Na Síndrome de Burnout, com exaustão
emocional, podemos ficar com as emoções em total explosão, ou ficamos como que
aplanados, sem emoção. E esse cinismo nos levará ao segundo pilar.
Despersonalização:
“Não aguento mais suas perguntas sem sentido! E se está
insatisfeita, procure outra loja, senhora!”
Nossa personalidade engloba, entre outras coisas, o
temperamento (inato) com as vivências, formação, criação, escolhas, caráter...
É algo um pouco complexo para uma frase, acredite. Não obstante, tão essencial à
formação do nosso ser, à concepção de quem somos. Assim sendo, a ideia
de “des-personalização” vem atrelada à ideia de deixar de ser quem somos. Fazer
coisas que jamais faríamos antes. Exemplo categórico: um vendedor gentilíssimo
que “abruptamente” começa a destratar clientes, gritar pessoas, perder o
controle com facilidade. Ele está fazendo coisas que talvez jamais fizesse
antes. Ele talvez esteja despersonalizando
nesse sentido.
E o terceiro e último pilar é a baixa realização pessoal:
“Por que escolhi essa profissão mesmo? O que é que estou
fazendo aqui? Esse emprego não tem nada a ver comigo!”
Achar-se frustrado, inútil ou mesmo pouco produtivo podem
ser sinais de que o indivíduo está insatisfeito com seu trabalho.
Identificar um ou até mesmo os três pilares descritos acima
são indícios de que talvez você esteja sofrendo dessa Síndrome. Apesar de não
ser reconhecida pelo DSM V (manual norteador dos diagnósticos em psiquiatria) como
uma entidade própria e de não possuir uma base biológica muito clara, o Burnout
é um preditor de episódios de ansiedade ou depressão e pode estar atrelado à
ideação suicida. Cuidadores de pessoas adoecidas, estudantes, profissionais
liberais e categorias afins podem ser mais facilmente acometidos. Psicoterapia
e algumas medicações podem ajudar, mas sem dúvida, nesse quadro, a MUDANÇA DE
ESTILO DE VIDA É FUNDAMENTAL. Às vezes, dar um freio no trabalho ajuda, ou até
redefinir metas e funções.
O importante é se perceber e procurar auxílio. Lembrando sempre
que “onde está nosso tesouro, aí está nosso coração”3.
José Medeiros – Psiquiatra
REFERÊNCIAS:
1 – Maslach, C. & Jackson, S. E. (1981). The measurement
of experienced burnout. Journal of Ocuppational Behavior, 2, 99-113.
2 –Vital, Ana Luísa Fernandes. SÍNDROME DE BURNOUT E ANSIEDADE
EM TRABALHADORES EM SAÚDE MENTAL: ENFRENTANDO UMA REALIDADE SILENCIOSA. 2018.
Trabalho de Conclusão de Curso. (Graduação em Medicina) - Universidade Federal
do Rio Grande do Norte. Orientador: José Medeiros do Nascimento Filho.
3 – Bíblia Sagrada. Mateus, Capítulo 6, Versículo 21.
4 - CARLOTTO, Mary Sandra; CAMARA, Sheila Gonçalves. Características psicométricas do Maslach Burnout Inventory - Student Survey (MBI-SS) em estudantes universitários brasileiros. PsicoUSF, Itatiba , v. 11, n. 2, p. 167-173, dez. 2006 . Disponível em
Maravilhoso!
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