É frequente escutar na cidade em
que resido, Natal/RN, relatos sobre pessoas que praticam suicídio em um dos
pontos turísticos da cidade. Em um lugar conhecido por suas belezas naturais e pela
rememoração da festa natalina, pessoas em desespero se lançam das alturas ao
mar, como estrelas cadentes.
Me lembro de Macabeia (a eterna)
e Lispector enquanto escrevo isto. Esse
momento final, medonho, difícil - e certamente sofrido - faz uma ponte com o
livro de Clarice. É sim a hora da estrela1
para essas pessoas – um momento em que
se estará nos holofotes da mídia e na boca do povo. Não obstante, também será
um momento em que seu sofrimento, sua dor, sua angústia extrema culminará na
morte.
Os dados sobre suicídio no mundo
são alarmantes: fala-se que até 800.000 mortes2 ocorrem por ano no
planeta. O suicídio está entre as dez principais causas de morte. Depressão,
transtorno bipolar, abuso de substâncias e psicoses (rupturas com a realidade)
estão entre alguns diagnósticos atrelados.
Ao contrário do que muitos
pensam, trata-se de um tema que precisa ser falado. PRECISAMOS FALAR SOBRE
SUICÍDIO! As pessoas precisam quebrar o tabu, expor suas angústias, entender
que não é vergonha pedir ajuda. Somos seres humanos, frágeis. Podemos falhar,
fraquejar, entristecer-nos, romper, adoecer, que seja... Quando a pressão sobe,
precisamos falar – o que se constitui verdadeiramente como uma válvula de escape.
Com isso entende-se que se você
identificar uma pessoa com sofrimento psíquico, não tema em perguntar: “você
acha que sua vida vale a pena”? Às vezes
com um simples inquérito todo um flagelo é sanado e uma alma, curada.
Assim sendo, se rompermos esse
elo perverso de silêncio, opressão e desespero, conseguiremos que as pontes
sejam apenas de ideias e esperanças e
que os pontos turísticos sejam locais marcantes para bater fotos e sorrir. E
só. Pois para romper essa conjuntura de
autoextermínios, precisaremos repensar nossa forma de viver e de conduzir nosso
planetinha: tanto o de dentro quanto o de fora, precisaremos destituir essa cadeia
de formação de vazios internos e de escolhas ruins que podem nos levar a atos
extremos (ou você pensa está imune?). Afinal, como diria Viktor Frankl,
desespero é sofrimento sem sentido3.
José Medeiros
1 – Lispector, Clarice. A hora da estrela. Ed. Rocco: Rio de Janeiro, 1998.
2 – ONU. OMS: quase 800 mil pessoas se suicidam por ano. Disponível em: https://nacoesunidas.org/oms-quase-800-mil-pessoas-se-suicidam-por-ano/ . Acesso em 21 de Janeiro de 2020.


